Filippeto Advogados

Alerta Gráfico

As obras que ilustram o site são da artista visual BETINHA TREVISAN e traduzem-se em ALERTA GRÁFICO contra o TRABALHO INFANTIL. Betinha por Nestor M. Habkost

Pintora sensível às problemáticas sociais faz em suas telas uma espécie de arqueologia do imediato. Remexendo as camadas de uma região da topografia social, com a paciência de arqueóloga, ela recolhe, limpa, organiza e recompõe os fragmentos de uma prática social – o trabalho infantil – que reaparece cada vez mais na economia contemporânea, suavizada de sua violência através de discursos matizados em tons pastéis: o que justifica a exploração infantil na forma de trabalho educativo; o que sustenta que criança – pobre – trabalhando não se torna marginal/criminoso; o que diz que tirando a criança do trabalho aumenta sua miséria e da própria família. ...

O trabalho de Elisabete Trevisan nos mostra que a força expressiva da arte dá muito o que pensar.
Ela é um convite sensível que inquieta o pensamento.

Autor: Nestor M. Habkost
Professor de Filosofia na Universidade Federal de Santa Catarina, Doutor em Ciências da Linguagem pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) - Paris, França.

A arte de Betinha por Maria Lúcia Haigert, do Comitê Catarinense Independente Contra o Trabalho Infantil

A modernidade acelerou o tempo e banalizou os problemas sociais. Ao longo dos últimos anos, temos visto um rápido desenvolvimento do mercado internacional, o que tem ocasionado mudanças internas nos países pobres, impostos pelos organismos internacionais, a fim de, através da diminuição do chamado “custo-trabalho”, torná-los competitivos. Como um dos resultados dessas mudanças, identifica-se um aumento significativo do trabalho infantil...

O escritor Antônio Callado, no artigo Romários se vingam do Brasil de Heródes (FSP 1994), afirma que estamos criando dois Brasis, um de costas para o outro. Um que cria com empenho e amor seus filhos, seus bichos de estimação, suas plantas. O outro, pobre, miserável, ainda meio escravo, continua produzindo filhos que continuarão escravos, já que não aprenderão a ler e escrever. Muitos devem estar pensando se, ao invés de combater todos os tipos de trabalho infantil, não deveríamos incentivar os que integrem os meninos e as meninas pobres à sociedade, tirando-os das ruas. Temos certeza que os que assim pensam possuem a melhor das intenções. Mas fiquem atentos: O ingresso prematuro de crianças e jovens (oriundos das camadas populares) na esfera de produção mantém estas crianças excluídas do acesso ao saber vigente, afastando assim a possibilidade de participação na cultura política dominante e inviabilizando também sua capacidade de decodificar esta cultura e a ideologia que a orienta. A exclusão escolar garante a divisão social do trabalho. Às que permanecem na escola caberá o exercício das funções intelectuais - técnicos de nível médio e superior, às outras resta o aprendizado na prática do “fazer”. O que resulta desse processo é a perpetuação das desigualdades sociais. Essas crianças, destituídas de seu direito de brincar, de explorar o mundo mágico da fantasia e dos sonhos, de pesquisar o mundo em que vivem e aprender, afinal, onde vieram parar, serão daqui a pouco adultos incapazes de contribuir para um mundo melhor através do trabalho criativo, consciente e responsável.

A miséria econômica produz a miséria cultural. A precocidade com que essas crianças são obrigadas a trabalhar – para completar a renda miserável de seus pais – representa antes de tudo a perpetuação de uma classe operária desqualificada. A violação dos direitos das crianças deve suscitar múltiplas iniciativas de solidariedade, ações, organizações e mobilizações para exigir políticas públicas eficientes e, sobretudo, a convicção de que o resgate da dignidade humana passa pela construção de um novo modelo de sociedade. Uma sociedade democrática, que não dissocie a ética da política e da economia, e onde tenham lugar digno todos os seres humanos. O Comitê Catarinense Independente Contra o Trabalho Infantil – um movimento social composto por pessoas e sindicato de trabalhadores – acredita ser possível erradicar o trabalho precoce, retirando as crianças dessa situação de exploração, desde que a sociedade se sensibilize para com essa causa.

E por acreditar também que a sensibilidade é atingida com mais eficácia através da arte, apoia a iniciativa de traduzir a “realidade” para uma linguagem plástica, a fim de dar visibilidade a uma situação que no cotidiano passa despercebida.

Autor: Lúcia Haigert
Mestre em Antropologia social pela Universidade Federal de Santa Catarina